Medos Contemporâneos Parte I

Numa sociedade em que o bicho homem é tão pressionado a manter a sua fama de mau (inclusive pela ala feminina),é quase inevitável que estes,mesmo quando não assumidamente gays,façam jus à imagem máscula e viril.O caso é quando a imagem não condiz com a realidade, e a farsa fica tão feia quanto fingir que gosta de mulher quando ao proferir a palavra vagina os ombros ficam arqueados e as sobrancelhas franzidas, dando sinais de que o discurso saiu pela culatra e deu bandeira.

Chamamos isto de "A Síndrome da Gaiola".Não,não adianta ficar durinho,falando grosso,dando uma de bad boy.Mais cedo ou mais tarde, a sua porção feminina há de falar mais alto.Bigode,cavanhaque,músculos de aço e peito cabeludo não vão afirmar por muito tempo a sua masculinidade,que está muito mais envolvida com o fator "maturidade" do que gestual.Ora, homem que é homem precisa ficar o tempo todo se afirmando?Isso é coisa de gente mal resolvida.

Mas voltemos ao assunto do tópico, o medo contemporâneo.Medo este que se resume ao assumir esta porção "colorida" que deixa o homem numa posição extremamente incômoda.Não para todos, mas para aqueles que tem vida dupla, que precisam se esconder atrás de casamentos e relacionamentos forjados pra fazer a linha hetero.Inclusive até filhos tem pra disfarçar...Como se de fato, ninguém soubesse.

Temos um amiguinho que há pouco tempo atrás se dizia bissexual, e que lidava com esta dualidade de forma natural,e que fazia o maior sucesso nas duas áreas.E que tinha um filho lindo e loirinho que era o terror entre as jovenzinhas.Reforçava por demais a sua porção máscula inclusive na cama.Podia até se roçar num macho, mas não liberava a rodela de jeito nenhum.Hiperativo.E ai de quem duvidasse!Fazia a maior pose no Orkut tirando fotos sem camisa expondo o peito nú que nem o Freddy Mercury com muitas caras e bocas,brincando com o nosso imaginário,se auto-intitulando um cachorrão safado,daqueles de deixar a gente suado com a língua de fora pedindo mais.

Até que um dia apareceu um vídeo dele dando uma entrevista num programa local de TV.Para a nossa surpresa(ou melhor,desgosto) o cara era a maior pão com ovo, mariconíssima.Falava fino,desmunhecava e ainda brincava de boneca.Não sabíamos pra quem passar essa batata quente.E ficamos assim,entre o escárnio e a Wanessa Camargo..."O mundo caiu".Pra nós.E pra ele.Porque desde então,nunca mais o tratamos da mesma forma.

Daí vem a pergunta:Adiantou disfarçar esse tempo todo pra quê?Aí vem o medo contemporâneo se reafirmar pra quem logo de cara não disse qual era a sua,tipo a mancada que a Terezinha deu naquela música da Elis Regina.E quá-quá-quá-rá-quá-quá quem riu fomos nós.


"Pois sim...Eu tenho muito o que zelar que é pra não dar o que falar de mim." - Ney Matogrosso/1983